Há algo no jeito com que aquele motociclista sai da fila do engarrafamento e retorna. Semelhante à maneira com a qual aquela mocinha entra agora na reunião com seu diretor e pede demissão. Existe uma verdade estonteante que paira sobre aquela mulher que sobe na boleia daquele caminhão e vai embora para nunca mais. Do quilate da expressão que assoma ao rosto daquela senhora que segura no ar o impropério que seu filho já ia lhe dizer. Há rito na ruptura, existe tradição na mudança. Permanece um credo novo a cada busca do próximo ato, a cada reviravolta em nosso enredo.
Há também o amor pela rotina, o apreço pelo cômodo, o afeto ao que está macio de uso. As dobras confortáveis do brim que cedeu. Há o itinerário cômodo da intimidade. Os corpos que, pelo hábito, suprimem quinas. Uma frase completando a outra como reza decorada, mesmo que seja inventada naquele átimo. Porque existe a afinidade do tempo com a história, da história com os pequenos fatos enfileirados, dos fatos com as falas, os gestos, os carinhos pequenos no jeito de fazer o café, de respeitar os erros do outro, de amas as arestas, de aparar as franjas das horas.
Há em buscar o novo e em permanecer na intimidade a mesma espera de renúncia e coragem.
Mara Coradelo
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