LIVRARIA DO GARRAFA

Livros - Submarino.com.br

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Dois Pequenos Dramas Barrocos


Da falta
I. Quando dei por mim havia esse anjo nada torto, era contrito e de falsa esquerda. Pagava mensalidades às mentiras e chamava-se: Desamor. Acabou com minhas pernas, elas pesavam itinerários que não traçavam nas noites, nem nas tardes nem em quaisquer dias. Alargava-me na cintura, era minha boca em forma de não, os vincos na testa onde pensamentos lúgubres se escondiam. E mulher que anda em companhia deste anjo, vira motivo de chacota. Que o mundo ainda tem a pachorra de fazer ganir cachorro quase moribundo. Eu gemo: de tristeza. Ouço Paloma Negra e penso por que não eu? Por que não eu? Brigo com Eros mesmo sabendo que ele deixou de existir a tempos... Mas antes me mandou esse anjo de cor morena, tez adocicada como sua voz, não suporta barulhos, fala baixo, se esconde denso entre minhas roupas, parece estar pregado no espelho em que me olho antes da festa, por isso menos festa, menos rua, menos alegria. O anjo nada torto o tempo todo é o único que não me troca pelas novas moças dos sabonetes Araxá. Fiel o Desamor, te deixa o bastante para esperar o próximo Dia dos Namorados, quando ele volta a te esfregar na cara os sorrisos dos casais deitados nas gramas dos parques. E ainda te sacaneia, atirando a seus pés rapazes: tolos, casados, parvos, desonestos, que suam nas mãos, que dançam engraçado demais. Desamor esconde todos os homens que prestam, na casa, no quarto e nas escrituras em posse das outras damas, essas que nasceram com a sorte do acalanto na voz, com a sabedoria de serem meigas, magras e melhores.

Do excesso
II. Da próxima vez que ouvir qualquer ser, falar que tal dama é triste por falta de homem (e nessas horas os malfadados proferem logo o nome do órgão por extenso, quase com divisão silábica) da próxima vez eu lembrarei de algumas possibilidades que podem ser causadas pelo excesso de homem. Mesmo que seja o de um só. Essa coisa que pode ser reticente e jogada no sofá da sala, que pode ser apreensão somente por isso. Ou da coisa que é um telefone que não liga, nunca. Ou somente toca quando já é tarde demais para que até lembremos de seu nome por extenso.
E os pescoços de alguns homens? Devem ser os mecanismos com maior mobilidade na Terra, elásticos ao olhar para o lado. E os ciúmes deles a respeito de suas mulheres, exige-se desse ciúme uma medida tênue, que em excesso atormenta e quando não existe preocupa.
E para piorar tudo são os que nos vêm com camisetas largas e calcinhas de algodão frouxo, e nem sempre somos Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo, linda de camisa de homem branca. Tudo bem, eles nem sempre são George Peppard o “Fred” do filme mais adorável que jamais houve. Tudo bem? Não, nada disso. Mesmo exibindo suave (eu não tenho nada contra, juro) pancinha falam em academia com toda cientificidade para suas esposas, gratas por algum tempo entre o trabalho e o jantar.
Acham que ser bem-sucedido é o que nós queremos em demasia. Ou desejam ser amásios. Eu espero sorridente o meio termo.
E tantos têm a virtude da falta de assunto, da falta da cantada certa. Coisa que deveria ser mole_ a palavra, é dura. Coisa que deveria ser dura_ é mole.
E as horas entregues a “infernet” (palavra de autoria da querida Jana Assis) bem ali no nosso nariz “o corpo virtual é outro corpo querida”.
Portanto quando perceberem naquela chefe, taxista, diretora da escola, dona do bar, policial, advogada e outras mais em quaisquer cargos, mesmo que donas de casa (ó que vida difícil) quando por acaso nelas existir esse detalhe que há milênios apavora a humanidade, o mau humor feminino, podem pensar em tampas de vaso levantada, em toalha molhada em cima da cama ou simplesmente em excesso de homem displicente em casa e falem, só para treinar_ isso deve ser excesso de membros.


Mara Coradello.
Não deixem de visitar http://www.livrodeanotar.wordpress.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails